domingo, 6 de novembro de 2011



Uma acorda embrulhada em alvos mantos de algodão
A Outra, horas antes, despertou seu recanto periférico com água rala de café.

A Outra tomou condução.
A Uma caminhou passos ritmados, cultivando esbelta silhueta e o coração forte; 
o caminho da roça tomou automóvel.

Encontraram-se bem ali, onde a Outra vendia ambulante seu sururu e a Uma planejava a festiva e ritual comunhão de domingo.

- Bom dia, disse a polida senhora
Polidas maneira e
face, dourada de sol e ornada de pó de ouro
- Dia, respondeu a senhora Outra
Cara ruge, de quentura

-Sururu fresquinho?
-Quanto tá o quilo?
-Dezoito.
-Dois, por gentileza.

Selaram o encontro, na troca.

A madame pensa consigo, dezoito reais, que exploração.
A explorada, no entanto, acordara com o sol, atravessara a cidade, à lagoa, voltara à rota da Uma, onde estacionou seu isopor de mariscos e aguardou disposta a exaustão das muitas horas de trabalho. Das horas-de-trabalho, que se confundem à exaustão com as horas.
Só que a explorada, dormente, nem percebe.
E a madame, dormente, nem percebe.

Não se percebe.

Uma e Outra são a mesma
Filhas gestadas no mesmo ventre débil d'alagoana família
Trágica mesmice, intrínseca desigualdade
Pólos dUm'NO vício
Que as veste do que
E as esquece de quem
São,

Mas não se percebe.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Sob a branca tez
Sob o manto cutâneo
Sob a clara organza
Um emaranhado de arabescos sanguíneos
Um corpo inteiro bordado

Tu, menina,
Tu e teus traços rendados
Em margens lacustres
Por mãos lacustres
mãe lacustre
Tu e esses teus fios incrustados

Dizem ser sangue contido, o motivo da arte
Hemo-limites
Digo que não
Digo que é o mar, a lagoa,
Escapado
Que te tomou o corpo, para ganhar mundo